Conheça a Banda Didá um grupo de samba-reggae só de mulheres, criado por Neguingo do Samba

Foto: Reprodução/

De pés descalços, vestimentas que reforçam a africanidade brasileira e tambores na cintura, a banda baiana Didá, que em iorubá significa “poder da criação”, atrai olhares e ouvidos por onde passa. O grupo é composto por mais de cem mulheres de diferentes gerações. A Didá já fez parcerias com Daniela Mercury, Caetano Veloso, Shakira, entre outras estrelas da música nacional e internacional – o coletivo de percussionistas no centro das atenções do pop. “O clipe trouxe mais reconhecimento ao nosso trabalho e a nossa luta”, comemora Débora Regina de Souza, 43 anos, presidente do grupo, em entrevista à Vogue. “Uma luta que vai do direito de ganhar o mesmo cachê que outros grandes artistas do showbiz a ter a nossa cultura valorizada no mundo todo”, reflete.

Apesar do casting 100% feminino, Didá tem sua origem em Antônio Luiz Alves de Souza (1955-2019), reconhecido internacionalmente como Neguinho do Samba e pai de Débora. Foi o músico norte-americano Paul Simon que se encantou e notou o diferencial artístico de Luiz, considerado o inventor do samba-reggae, e na época mestre do Olodum, e o convidou para colaborar em seu álbum The Rhythm of the Saints (1990). Reza a lenda que Paul ofereceu ao músico baiano qualquer carro do mundo que quisesse, porém, Neguinho preferiu uma propriedade em ruínas no Pelourinho. Depois de reformado, com auxílio do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), o local, a partir de dezembro de 1993 virou a sede daquele que talvez tenha sido, depois da criação do samba- reggae, seu projeto musical mais audaz: a primeira banda de percussão só de mulheres do País, batizada de Didá Banda Feminina. “Me lembro como se fosse hoje, as pessoas dizendo para ele: ‘Você é maluco, elas vão engravidar logo!’. Mas meu pai formou o grupo porque queria empoderar as próprias filhas e outras mulheres negras”, relembra a filha e líder do coletivo.

(Foto: Alex Dantas)

Desde então, a Didá Banda Feminina já tocou em El Salvador, Espanha, Estados Unidos, França, República Dominicana, Ucrânia e, para quem não se lembra, no show de encerramento da Copa do Mundo de 2014, no Maracanã, com Carlinhos Brown. Elas também desempenham um importante trabalho de assistência social em Salvador acolhendo crianças e mulheres por meio da dança, capoeira e percussão, além de promoverem rodas de conversa e distribuição de alimentos para as famílias da região.

Em @didabandafeminina, perfil das meninas no Instagram, elas fazem lives sobre empoderamento feminino e negro por meio da música. “É muito gratificante. Fomentamos mulheres que querem tocar tambor, um instrumento tradicionalmente associado ao universo masculino”, conta Adriana Portela, que, além de ser a maestrina da banda, atua como diretora financeira e de patrimônio do projeto. “Muitas pessoas se apropriam da nossa cultura para se beneficiar, não para nos ajudar e nos fortalecer de verdade”, adverte Débora. “Mas, através da Didá, reconhecemos nosso valor como mulheres pretas e brigamos pelos nossos direitos, dizendo à sociedade que podemos chegar onde quisermos.”

Coordenação e Styling: Danilo Costa
Beleza: Hávata Serena

VOGUE

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