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Nascido em Saubara em 1909, Maleiro foi, ao mesmo tempo, pai e filho do Carnaval e das festas populares. Ele chegou a Salvador com pouco mais de dez anos para trabalhar embalando mercadorias. Dessa maneira, começou a adquirir habilidades manuais que culminariam no apelido que se tornou sobrenome.
“A habilidade manual vai se estender e brilhar quando ele começa a fazer malas. Daí o apelido de Maleiro. As malas, de notável qualidade, começam a gerar uma freguesia constante”, conta o advogado, professor e pesquisador Leonardo Mendes, autor do livro O Gigante das 1001 Canções e integrante da Associação de Amigos de Nelson Maleiro, fundada em 1996.
Depois dos trabalhos com malas, se enveredeu para a criação percussiva na Oficina de Investigação Musical. O historiador Nelson Cadena tem relatos de Ivan Lima, um dos fundadores da Associação, que contam que, na oficina, ele recebeu uma curiosa encomenda de Raul Seixas, pedindo uma bateria em estilo estadunidense. Com sua criatividade, Maleiro colocou efeitos de luzes, que piscavam enquanto o baterista pisava no pedal. Raul ficou maluco que é uma beleza.
Não é exagero dizer que Maleiro foi o primeiro protagonista negro do Carnaval de Salvador. Ele também foi o primeiro negro a protagonizar um comercial de televisão na Bahia, quando estrelou peças publicitárias da TV Itapoan.
Ele envereda para o Carnaval fundando o Mercadores de Bagdá, mas o destaque vem a partir de 1959, quando funda os Cavaleiros de Bagdá, que sai pela primeira vez em 1960. Ele como protagonista através da figura do Gênio da Lâmpada”, explica Léo Mendes, detalhando o personagem era um gigante vestido com turbante, colete de metal reluzente e que batia um gongo dourado ao longo de seu desfile na Avenida. Maleiro também criou carros alegóricos para blocos como Os Internacionais, como os carros do Pandeiro Cigano, O Cavalo e A Pirâmide do Egito.
Léo Mendes desfilou com Maleiro na infância. “Desfilei com ele em 1979, em seu último Carnaval, só ele e um carro alegórico no qual ele saía fantasiado de Gênio da Lâmpada, com o tradicional gongo que ele tocava na Avenida, sobretudo quando ele era saudado”, recorda.
O Gigante de Bagdá morreu em 9 de junho de 1982 após um ano e cinco meses acamado, vítima de um AVC. Apesar de ter sido uma pessoa reconhecida na cidade, chegando a fazer parte do programa Escada do Sucesso, da TV Itapoan, como um dos jurados, sua morte não teve repercussão no estado.
“Ele ainda precisa ser mais reconhecido, sobretudo pelo poder público. Desde quando a Associação foi fundada, o nome dele voltou a circular, porque estava num ostracismo total. Hoje temos a Rua Nelson Maleiro na Liberdade, a Escola no Cabula, a Passarela onde passam os blocos no Campo Grande. São exemplos de feitos que a Associação conseguiu realizar a partir de sua fundação”, detalha. Segundo Léo, o Dia do Carnavalesco coincide com o nascimento de Maleiro, em 20 de janeiro. “Há uma sala na Fundação Gregório de Mattos com o nome de Nelson Maleiro, que foi criada durante a pandemia. Mas é preciso mais”, completa.
Trechos de uma reportagem/Correio da Bahia
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